29.3.16

Cheio de Nada [por Falcão Neto]

Daqui da janela eu conto outras setenta e duas janelas. Outras oito têm a luz interior acesa e apenas outras duas têm insones como eu a olhar a paisagem noturna. Nós não nos comunicamos, não se sabe nem se nossos olhares são correspondidos. Na verdade, isso pouco importa. Só queremos comemorar em silêncio a não-chegada do sono e olhar as nuvens vermelhas que refletem a luz laranja dos postes em terra.
A madrugada nos abraça e eu me pergunto qual de nós três, fora eu mesmo, tem insônia por motivos como amor (na verdade falta dele), futuro (na verdade falta dele), carreira profissional (na verdade falta dela) ou ansiedade (na verdade, ela em exacerba). Me pergunto qual deles também tem fones de ouvido reproduzindo músicas-chave para os sentimentos. Qual deles também vai escrever um texto sobre a madrugada que o presenteou com uma companhia silenciosa apenas pra esperar o desespero passar.
O dia amanhã não vai nos esperar pra começar, mas, certamente, ele pode ir um pouco na frente antes de chegarmos. Só hoje, a madrugada é nossa. Em qualquer sentido que você imaginar, é nossa. Romântico, amigável, até sexual conta. O que importa é que agora nós três temos a noite só pra nós, e esses oitocentos metros que nos separam não vão nos impedir de nos abraçar pelo olhar. Quando cada um de nós sair da janela, voltará à realidade. Mas essa suspensão pode durar mais um pouco, pelo menos enquanto meu copo d'água gelada, que eu trouxe ao parapeito junto comigo, resistir. Nos permitamos esse momento antes de voltar à vida real e nunca mais falarmos sobre isso. Podemos até nos conhecer, mas já não somos nós mesmos. Agora somos apenas silhuetas. Iguais, sem contas pra pagar, sem desamores e desmoronamentos, sem despertadores; só desenhos de luz (na verdade a falta dela) que se projeta ao próximo.
E então poderemos apagar nossas luzes e continuar a não dormir na cama.




Olá, meu nome é Falcão Neto, e tenho 19 anos. Minha adolescência me presenteou com a fome de alma, e desde então venho respirando arte. Sou fotógrafo, estudo teatro e Produção Publicitária, entre outras coisas, então, já se pode ver que as miçangas já estão presas em meu coração, hahah!

Você pode encontrar meu trabalho visual em facebook.com/falcao.audiovisual

15.3.16

Nota número um sobre você

A água que escorre dos teus olhos faz brotar flores, que formam um belo jardim. Flores que enfeitam tua volta e tu bobo, nem nota. 
Eu borboletava por aí e então me encantei. Pousei. 
Vive me perguntando: "Menina, que diacho tu viu em mim?". Foi o jardim, as cores e flores de lá. 
Mas hoje sabendo que tu murchas para o jardim crescer, prefiro perder a beleza das flores e ver o menino florescer.