Acordei pensando em você. Há quanto tempo isso não
acontecia? Aliás, quantos anos faz desde a última vez? Passou tão rápido...
Não sei se você sabe, mas eu tinha uma quedinha por você.
Quedinha, não. Era salto livre sem equipamento adequado. Vivia cheia de marcas
– todas elas eram provas de que você havia passado por mim.
Nos meus sonhos você batia ponto. No início, eu até ficava
brava – com você e comigo mesma. Com o tempo, notei a sutil relação entre tuas
visitas durante meu sono e a qualidade dos meus dias. Aí, rapaz, você passou a
ser convidado especial esperadíssimo todas as noites.
Lembra aquele seu aniversário em que você me cobrou um
abraço? Eu tremi dos pés à cabeça. Embora tenha me achado ridícula na hora,
hoje gosto de pensar que aquela tremedeira foi culpa das minhas células,
animadas por eu te ter mais perto por alguns segundos.
De vez em quando me pergunto se você iria gostar dessa
versão minha que não conhece. Essa versão que já passou por tantas alegrias,
dúvidas e tristezas. Essa versão que já riu até a barriga doer e já chorou até
pegar no sono. Contaria tudo que aconteceu nos mínimos detalhes e, enquanto
escutasse, você poderia fazer aquela torta caprichada. A propósito, você ainda
cozinha? Adoraria ter um amigo que cozinha – frigideiras e eu nunca nos demos
muito bem.
Hoje eu só queria agradecer por você ter sido o amor platônico
mais doce que eu tive. Andei em nuvens durante um bom tempo por sua causa. Me
machuquei porque essas coisas, hora ou outra, machucam mesmo. É procedimento
padrão. Mas não esquenta, já passou. O tempo curou tudo e eu estou aqui,
inteira.
Então vê se aparece. Assim do nada mesmo, de repente. Me
manda um e-mail, pergunta como eu tô, me convida pra conhecer aquele rodízio de
carne sobre o qual você não parava de falar. Não sou fã de carne, é verdade...
Mas ainda sou fã tua, vale?