30.4.14

Te leio

Te leio em cada começar e terminar dos dias. Te leio em cada céu estrelado e sem nuvens, que tenta mostrar cenas do nosso próximo capítulo da forma mais clara possível. Te leio nas músicas que parecem cantar a nossa história. Te leio nas letras garrafais que formam teu nome na capa de um livro que se acomodou na minha prateleira. Te leio nas longas mensagens que chegavam tarde da noite, quando eu lutava contra o sono para ler cada uma delas. Te leio quando fecho os olhos e automaticamente vejo os teus.


Mas não te leio nos teus discursos confusos nem nas tuas atitudes controversas. Não te leio nesse teu bloqueio emocional estúpido que não me permite saber se você já se encontrou ou se está tão perdido nesse labirinto como eu. Não te leio nesse silêncio irritante nem nas mensagens que deixaram de chegar. Não te leio na tua ausência frustrante e injusta, que fere sem dó nem piedade.
Quando eu já estiver esgotada, você vai chegar perto e explicar. Vai dizer de cara que não sabe como eu não entendi, porque os sinais sempre estiveram lá. Vai rir e me chamar de louca; eu, tola, vou acreditar. Diga, então, senhor da verdade: como você agiria no meu lugar?

28.4.14

Montanha-russa

Resolvemos voltar à montanha-russa. Que mal faz mais uma vez? Que mal faz se divertir?
Naquele mesmo carrinho, contamos os segundos mentalmente, só pra esconder o nervosismo. Olhamos um pro outro e sabemos, sem trocar uma palavra, que não será como a primeira vez. "Relaxa. Vai ser único, como sempre é", você garante.
Começamos a nos mover devagarzinho. De repente, a velocidade aumenta. Subimos, descemos, fazemos uma curva, subimos bem mais alto do que da última vez. Te espio e vejo você sorrindo, braços jogados pro alto pra sentir o vento. 

Fecho os olhos e me sinto tremer, morrendo de medo da próxima manobra. Rezo pra que você não note. 
Essa mudança imediata, a adrenalina instantânea, as emoções à flor da pele... Tudo tão nosso que explica facilmente o motivo de montanhas-russas serem a nossa cara.
Sinto tua mão sobre a minha. Ouço tua voz dizendo "Abre os olhos. Confia em mim, você vai gostar de ver isso".
Respiro fundo e confio. Abro os olhos e me surpreendo. Gosto mesmo do que vejo. 

Não sei por quanto tempo, mas logo percebo: caramba, passou o medo.

14.4.14

Não sirvo pra você

Eu não uso roupas de marca. Sempre que posso, dispenso o salto alto. Não sei bem como me comportar naquele restaurante chique que você sempre vai. Não sou uma lady. Não sirvo pra você.
Não tenho dom pra maquiagem. Não tenho energia pra dieta. Não tenho ideia de quantas calorias eu ingiro por refeição. Não sou uma top model. Não sirvo pra você.


Não tenho uma conta lotada no facebook. Não sou o centro das atenções nas festas. Raramente vou a festas. Não sou popular. Não sirvo pra você. 
Não tenho paciência pra joguinhos. Não tenho saco pra ceninhas de ciúme. Não dou a mínima pra aparências ou convenções. O que eu faço, moço, faço porque quero, porque sinto. O que eu não quero, também. Não vou com meias intenções, vou com minhas verdades - tímidas, mas fortes. Não sou atriz, moço. Não vou dividir com você o papel de casal perfeito da novela das oito. Não sou perfeita. E se nada do que eu sou é suficiente, está mais do que claro o motivo de eu não servir pra você.