23.2.15

Em frente

É bom poder te dizer que eu estou bem. Bem que você disse que tudo ia dar certo. Certo, doeu bastante no início, eu admito. Admito também que você foi meu assunto proibido por longos tempos. Tempos aparentemente tão distantes foram aqueles em que eu era o seu xodó. "Xô, dó!", era o que eu repetia mentalmente para todos os olhos tristes que me consolavam como se minha vida não valesse mais de nada.




Nada me faria querer esquecer você... Você que me fez sonhar e brincar e me sentir viva. Viva as estradas turvas, as ideias confusas, as quedas que deixam a gente em carne viva. Viva tudo o que nos faz crescer e aprender, seja bom ou ruim, amor ou dor. Dor nenhuma vive para sempre, lembre. 



Lembre que, se precisar, estou aqui. Aqui ou ali, sempre disposta a te ajudar. Ajudar você me ajuda também: me tira o peso do peito e o nó na garganta, que surgem sem nem ter porquê... Porque, menino, a gente deveria apenas agradecer e seguir em frente, sem criar caso. Caso doa, a gente pensa, repensa, se cuida e muda o caminho, mesmo que sozinho.


6.2.15

Ele e a rua

Eu entrei na vida dele como quando você descobre uma rua sem querer e lá tem um restaurante com uma comida que tem o sabor doce da infância, que faz valer seu dia e ver que se perder fez você achar uma maravilha no final. Ele aprendeu a entender e dar risada das minhas metáforas constantes envolvendo comida.
Nós escolhemos um dia à tarde para conversar e falamos dos nossos sonhos, das noites de natal, dos amigos que não vemos mais, sobre como foi bom ter me perdido e de repente ter me encontrado naqueles olhos castanhos, que sempre me contavam mais coisas sobre ele do que poderia expressar em palavras.
Também lhe contei sobre meus temores, ele me falou que não havia nada a temer nas borboletas, elas eram como bailarinas em constantes danças com o vento. Em pensamento eu me lembrei que deveria apenas temer aquelas que se mantinham inquietas no meu estômago.
Eu lia suas cartas com o mesmo encanto que admirava as estrelas, a lua e o céu. Ele desvendava meus versos e se achava nas entrelinhas. "Tem um pouco de nós aí, né?!" e ele sabia que sim.
Ele sempre dava um jeito de passear pelos meus pensamentos e surgir nos meus sonhos, deixando sempre sua graça de quem estava só de passagem e de uma hora para outra, por pura teimosia, resolveu ficar.  Essa teimosia que eu não reclamo, mas que por vezes gosta de entrar em competição com a minha.
Eu não sabia explicar o que ele tinha que sempre o colocava acima dos caras que me cercavam, não sei se era seu cabelo encaracolado, o jeito que sorria ou os dois. Eu só sabia que gostava de me aconchegar no seu abraço e ainda mais quando ele me dizia carinhosamente que o lugar dele era ali, era eu.