3.8.16

Júlia

Haviam tempestades nos olhos de Júlia e um inverno rigoroso em seu peito. Nunca me explicou o motivo e nem nunca lhe perguntei, talvez fosse somente proteção.
Fumava como quem precisava do cigarro para colocar para fora de si tudo de mal que lhe machucava. Sim, ela sabia que carregava a morte entre os dedos. 
Nunca buscou salvação, se via como um caso perdido e sem solução. Carregava a perdição por aí em passos lentos. 
Ela gosta das estrelas e de observar as nuvens, algumas vezes observamos juntos o quanto somos miúdos diante do universo.
Seus olhos refletiam a imensidão do céu e a sua própria, que sempre procurava esconder muito bem. Os beijos eram intensos tanto quanto ela. 
Ela é daquelas que por onde passa leva um pouco dos outros e deixa um pouco de si. O que Júlia levou? Ela levou de mim meu verão quando nem queria abrir mão do seu inverno.

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