13.3.14

Divisão de Bens

- Vamos fazer isso de uma vez. Prolongar só machuca mais. 
- Concordo. Por onde começamos?
- Pelo meu sorriso. Acho que você deveria ficar com ele.
- Ué, por quê?
- Foi você que o colocou no meu rosto, esqueceu? Ele é seu por direito. 
- Então acho que você deve ficar com o meu olhar tranquilo. Foi presente seu, nada mais justo.
- E a nossa música? 
- Você fica com ela, claro. Foi você que ouviu primeiro e me mostrou naquela tarde de domingo, dizendo que ela te fazia pensar em nós. 
- Eu sei, mas não tenho certeza se quero... Ela foi minha música favorita por um bom tempo, mas... Acho que você a estragou.
- Se serve de consolo, eu não posso ficar com aquela comédia que assistimos no cinema. É impossível esquecer tua risada depois de cada uma daquelas piadas bestas...
- Dói lembrar? 
- Um pouco... Mas vai passar.



- Por falar em dor, preciso que você devolva minhas lágrimas. Aquelas que você disse que eu nunca mais derramaria.
- Eu não quero que você chore.
- Eu preciso. Tem alguma coisa doendo dentro de mim que não cessa. Já me aconselharam a chorar, botar pra fora, mas eu não consigo... Nem uma gota.
- Está bem, eu devolvo. Você pode ficar com as minhas lembranças?
- Quais delas?
- Aquelas em que você é protagonista. Leva também o gosto da tua boca que ficou na minha.
- Por quê? É ruim?
- Não, claro que não. Ele só me lembra, dia após dia, que você já esteve perto demais.
- Ah, entendi... Olha... Eu preciso devolver você.
- Como assim?
- Você foi meu bem mais valioso. Posso não te ter como antes, mas ainda há muito de você comigo. 
- Bem pensado. Tenho que devolver você também... Posso te contar um segredo?
- Vai fundo.
- Você me fez um bem danado. Eu não sei se quero te devolver. Não vai ser nada fácil.
- E quem disse que seria?

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