20.4.15

[Dica de livro] Confissões de Adolescente, de Maria Mariana

Adolescência é uma fase complicada, é o que dizem por aí. Ninguém consegue acalmar os tais hormônios desenfreados, as vontades incontroláveis nem as verdades irredutíveis. A grande maioria dos filmes que retrata essa idade mente, exagera e passa longe de passar alguma realidade nas telas, quando enfim chega Maria Mariana, aos 18 anos, com Confissões de Adolescente - diário que virou peça de teatro, foi transformado em série de TV, chegou às telas do cinema e, claro, pode se fazer presente na estante de qualquer um.
Meu primeiro contato foi com a série, quando a mesma era transmitida pela TV Cultura há uns anos (uns bons anos que eu não me arrisco a contar), mas só dei a atenção merecida lá pelos meus 19 anos. A turbulência já não era a mesma, mas a identificação acontecia do mesmo jeito pelo simples fato de poder relembrar coisas que também aconteceram comigo. 
Depois da série, iniciei uma saga para ler o livro - que consiste em, basicamente, páginas dos diários de Maria Mariana e de outras adolescentes, contando experiências marcantes e confidenciando seus pensamentos da época. O problema era que eu não encontrava o tal em nenhuma livraria, biblioteca ou site de vendas com preços amigáveis. Até que, um belo dia, encontrei uma edição velhinha à venda num sebo de Recife por quatro reais. Gente, QUATRO REAIS. Foi felicidade demais para uma pessoa só.


Juro que tentei lê-lo devagar e aproveitar o amarelado lindo das páginas, mas não consegui. Fui levada pelo ritmo intenso do livro e, quando percebi, estava virando a última página de um diário verdadeiro, sem receios e com coragem mais do que suficiente para mostrar o próprio universo - mesmo que este não seja do jeito que as pessoas de fora o enxerguem. Ao meu ver, Mari foi corajosa em expor suas páginas para quem quisesse, principalmente se você levar em conta que o livro foi publicado no início dos anos 90. 
Particularmente, não me identifico com a maneira que a adolescente (ou as adolescentes) tratam seus pais. Que me chamem de careta, mas acho uns trechos recheados de desrespeito... Mas enfim. Se me proponho a ler, é porque desejo conhecer o universo do outro, e do que me adianta ler para encontrar um universo igual ao meu? Me resta concordar, discordar, refletir sobre a postura do outro de modo que eu cresça de alguma maneira. Em contrapartida, o livro traz textos engraçados e leves que podem te fazer se identificar e até sentir um pouquinho de saudade dos tempos em que se ingeria drama no café da manhã, no almoço e no jantar.

A nova edição do livro, que pipocou nas livrarias graças ao filme lançado no mesmo ano, traz um aspecto bem parecido com um diário. Letras cursivas e desenhos que parecem ter sido rabiscados em um caderno aparecem em uma página ou outra, causando mais identificação com o leitor. A melhor parte dela, pra mim, é "O que vem depois", conselhos escritos pela Mari aos 36 anos para a Mari adolescente. Mais uma vez, fica a sensação de que a gente precisa ter calma. Rir mais, cantar mais, aproveitar mais o sol lindo que faz lá fora. A vida é bonita demais em seus pequenos detalhes pra tanta reclamação, tanta reunião chata e tanta buzina insistente.
Para quem não leu o livro, leia. Para quem não gosta de ler, assista a série. Ou o filme. Ou os dois. Pra quem não se identificou, diz que é drama desnecessário demais e que não passou por nada disso, senta, respira fundo e aceita o desafio assim mesmo. Conheça um universo diferente do seu, garanto que você vai, pelo menos, dar umas boas risadas.

Trechos Favoritos:


"O tempo somente passa pra quem olha de fora. E crianças somos todos, diante do mistério da vida".

"Eu não posso continuar assim, gente! Sabe aquela mania que eu tenho de escrever... assim, o nome dos caras que eu gosto na parede. Outro dia mamãe disse que quando se mudar vai ter que pintar o apartamento todo. Eu não posso mais continuar assim, tô com treze anos na cara, quando fizer dezoito não vai ter mais lugar na parede".

"Eu estava de noite em casa. Aquelas noites em que se quer comer o mundo mas não se tem boca pra tudo isso, então se fica em casa na cama, com indigestão".

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